Pardismo, Colorismo e a “Mulher Brasileira”: produção da identidade racial de mulheres negras de pele clara
DOI:
https://doi.org/10.1590/1806-9584-2023v31n283015Palavras-chave:
Pardismo, Colorismo, Racismo, Embranquecimento, Negras de pele claraResumo
Neste artigo, baseado em estudos, leituras e discussões ocorridas em reuniões de orientação coletiva entre as autoras, trazemos reflexões preliminares à realização de pesquisa sobre a população parda e o tema do “pardismo” na sociedade brasileira. Buscamos refletir a respeito dos processos de invisibilização da negritude com base na ambiguidade de traços fenotípicos. Como todas as opressões que operam na sociedade ocidental colonial, a violência simbólica da desracialização, combinada com as opressões de gênero, pode provocar efeitos psicossociais significativos em pessoas que ocupam posições de gênero não hegemônicas. Com foco em mulheres negras de pele clara, procuramos refletir sobre as formas como a negação da identidade racial incide sobre os processos de subjetivação dessas mulheres em uma sociedade marcada pela colonialidade. Refletimos ainda sobre a adequação do conceito de “colorismo” à realidade brasileira.
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