Práticas multilíngues de tradução na paisagem linguística de Macau: reflexões através da abordagem de placeness e subjetividade do lugar
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e92513Palavras-chave:
tradução, paisagem linguística, placeness, subjetividade do lugar, Região Administrativa Especial de MacauResumo
Sendo território chinês que esteve sob administração portuguesa durante mais de quatro séculos, Macau tem vindo a vivenciar um intercâmbio cultural e linguístico dinâmico, em que diferentes línguas (chinês e português, em particular) coexistem e formam, assim, uma paisagem linguística urbana com características próprias. Perante este contexto, e baseando-nos em dois conceitos ligados às relações entre lugares e sujeitos humanos (suas emoções, atividades linguísticas e culturais, etc.) – placeness (Augé, 2008; Chaveiro, 2012) e subjetividade do lugar (Holzer, 2009; Brown & Knopp, 2008), respetivamente –, o objetivo principal do presente artigo consiste em analisar e refletir sobre as manifestações linguísticas públicas na cidade de Macau, com incidência nas práticas multilingues e interculturais nela patentes e tornadas visíveis por meio da tradução. A partir da análise de casos específicos presentes na esfera pública de Macau, abordamos as práticas linguísticas, entre as quais a de tradução é central, que interagem nas três principais categorias de espaço que preenchem um território urbano: “espaço de estado e governo”, “espaço de entidade privada” e “espaço de interação de multi-atores” (Zhang & Sun, 2019). Seguindo esta categorização, o nosso corpus de trabalho inclui como objetos de estudo sinais em via pública, designadamente placas com nomes de ruas e estabelecimentos comerciais, cartazes publicitários e avisos institucionais e governamentais. Pretendemos, através desta análise, aprofundar a compreensão quanto à especificidade pública do multilinguismo e da interculturalidade de Macau, contribuindo, em simultâneo, para uma reflexão a respeito das relações de poder entre as línguas e comunidades coexistentes no território e, por conseguinte, a respeito da identidade (cultural) de Macau. Procuramos assim fornecer um modelo de referência para a investigação interdisciplinar no âmbito dos estudos de tradução, da paisagem linguística e da geografia cultural e humanista.
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