Tradução e diplomacia: análise intercultural da carta do imperador chinês Qianlong ao rei português D. José I
DOI :
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2025.e108457Mots-clés :
Qianlong, D. José I, o Grande Rolo Amarelo, historiografia da tradução, interculturaRésumé
Inserido no contexto histórico das relações sino-portuguesas, o presente estudo concentra-se na última embaixada portuguesa à China: a missão de Francisco Xavier de Assis Pacheco e Sampaio, com foco na tradução chinês-português da carta credencial enviada pelo imperador Qianlong ao rei D. José I, em 1753. A análise fundamenta-se na teoria da intercultura de Anthony Pym. Conhecida como o Grande Rolo Amarelo, a carta apresenta três versões paralelas — em manchu, chinês e português — sendo esta última uma tradução da versão chinesa, realizada por Avguštin Hallerstein, missionário jesuíta a serviço da Corte Qing. A versão chinesa é marcada por altivez e superioridade, características do discurso oficial sustentado pela ideologia da centralidade chinesa e pelo Sistema Tributário vigente. A análise textual comparativa entre o original e a tradução evidencia que o tradutor, ciente das tensões culturais e ideológicas, adotou estratégias voltadas à atenuação da hierarquia explícita. Como resultado, a tradução em português recria uma relação de igualdade e equilíbrio diplomático entre as duas nações, contribuindo para o êxito da embaixada e para a preservação da dignidade da Corte portuguesa. Essas intervenções demonstram o papel fundamental do tradutor enquanto mediador intercultural, capaz de conciliar e harmonizar perspectivas e interesses distintos.
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